domingo, 8 de setembro de 2019

Quem me matta

Quem me mata 
É quem-me-ata
Às cordas de uma guitarra
Que só tem-som.

Cego mu(n)do

Quando eu era pequena, morria de medo do escuro. Não conseguia dormir no breu, em quarto onde eu não conseguisse enxergar absolutamente nada ou quase nada. Me batia um pânico e eu fechava os olhos, mas tudo continuava mais escuro ainda. E ai eu começava a imaginar lugares cheios de luz que transformavam o escuro do meu fechar de olhos, em qualquer outra coisa que eu quisesse. E eu sempre queria luz.

Eu cresci e esse medo do escuro nunca parou. Agora eu tinha medo do escuro, por temer ver coisas no breu, das quais não pudesse ter certeza. Então eu mantinha os olhos bem abertos, tremendo de medo daquele escuro, só pra ter certeza que não tinha nada ali. Até o dia que eu vi algo. Era tanto medo de ver, que eu vi. Sabe, criação da nossa cabeça? E ai eu fechava os olhos pra voltar praquele escuro do fechar de olhos, que sempre consegui transformar em qualquer coisa, menos escuro. Mas de tanto medo, nada mais me vinha. Só o escuro.

Hoje ainda tenho medo do escuro. Um dos meus maiores medos, sempre foi e até hoje é o escuro. E eu nunca entendi como é que não consegui, mesmo adulta, me livrar desse medo. Mas, de novo, entendi um outro tipo de escuro. Aquele onde não consigo enxergar o que está na minha frente, se tem algo no caminho que eu não vejo e então posso esbarrar, quebrar, me machucar. Entendi o escuro como medo, porque tenho medo do que não consigo ver e medo de não prever o que pode acontecer, medo de não saber para onde estou indo e se é a direção certa. Como quando acordamos no meio da noite, ainda meio sonâmbulos e está tudo tão escuro que, mesmo conhecendo o caminho, anda-se com cautela porque tudo está escuro.

Aí alguém me disse esses dias, que eu tenho medo é de mudanças. E tenho sim, muito medo. Estar em mudança, é estar no escuro. A mudança é o escuro. E o medo talvez, então, nunca tivesse sido do breu em si, ou do não conseguir ver. Talvez fosse só isso: medo da mudança.

E ai eu entendi porque nunca consegui mudar meu medo de escuro.
E comecei a ter medo de que meu medo na verdade seja medo de encarar esse medo ou entender que esse era apenas o menor deles, pra que eu mesma não visse o que há por trás deste: “Se esse não for, então, meu maior medo (o escuro), o qual eu já sei lidar por tanto tempo que o tenho, qual será? E se eu não souber lidar? Se eu não conseguir entender e encarar?”

Hoje eu não durmo de luz acesa.
Não consigo dormir de luz acesa.
Nem um pouquinho de luz. Me incomoda.
Ainda assim, meu maior medo, desde sempre, continua sendo esse: o escuro.

Eu te vi nas artes plásticas. Cê-mexeu-DEMAIS-comigo

Deep sad eyes
Messy hair
Big red mouth
Messed up head

You came in 
Big white smile
Broke the doors
Made me life!

For sometime 
You were mine
Fire came
Long goodbye

Now I miss
All that shit
‘Cause u left 
No goodbye

Big big heart
Painted black and white
You gone and left my
Messy mind

Above the sky
Or underground 
You hold on to my head
Dead but alive.

Arte: Miasmas - Anna Priolli