sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Se você quer o meu bem
Não me diga o que fazer
Não sou mais uma refém
A mercê do seu prazer
Preste atenção, me ouça
Eu já sei do que preciso
Sou bem mais sã do que louca
Eu não quero seu abrigo
Essa obsessão é surda
Eu gritei mais de mil vezes
A vida anda e não muda
Passam dias e meses
O nosso nó não desata
Sei que você sente falta
Mas pra mim já foi o tempo
Querido eu só lamento
Mas essa pressão me mata
Acendo um cigarro
O carro acelero
Até o vento me despir
Assumo, não minto
Me sinto como o eco do big bang
A explodir
Entre a gente o que tinha de dar
Ja deu
Hoje em dia quem manda em mim
Sou eu
Me deixa que eu vou onde eu quiser
Esqueça, já não sou mais sua mulher
Me chame quando enfim me esquecer
Se mande e entenda: ninguém controla o meu querer
Me deixa
Me deixa
Me deixa
Entre a gente o que tinha que dar
Já deu
Hoje em dia quem manda em mim
Sou eu

Monique Kessous

SPH

Há 90 dias eu nasci
Experimentei meu primeiro grande trauma
Que foi sair do meu lugar quentinho e confortável
E vir à vida
À esse mundo
No meio do caos
E experimento sentir isso
Do fundo da alma
Pra fora do corpo.

Ha noventa dias
Eu renasci
E descobri cores e formas
E texturas e sons
E imagens e tons
E tudo mais que uma criança descobre

Descobri o som da minha risada
E o que me faz gargalhar
Descobri desejos
Como fome
Raiva
Tristeza
Amor
Felicidade
Confusão
Agonia
Euforia

Há noventa dias
Apenas
E tanto
Eu entendi que existe vida
Na vida
E que existe o outro
E que existem outros modos
Caminhos
Espaços
Cansaços
E passos

Há noventa dias
Eu descobri a mim
Eu lembrei de mim
E olhei pra mim
E lembrei de lembrar de mim

Pela primeira vez
Talvez
Ha noventa dias
Eu lembrei que eu existo
Aqui
Agora
Assim.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Não sei como é daí de cima
Onde tudo parece intocável
E o tempo parece atrasado
E você me parece incansável

Não me recordo de ver você chegando
Nem de ver você entrando
Nem de ouvir você tocando
Nem de ter aberto a porta

Não me lembro de ter te visto
Sem teu estado controlado
Sempre rindo atordoado
Sem estar cheirando à álcool

Não comprei o teu jeito acanhado
Teu sorriso tão grande e largo
Demais pra me sorrir e me engolir
Nem teu velho recorte amassado

Teu sotaque de bicho do mato
Tua dose de pouca maldade
Teu “não sabe se fica ou se parte”
Tua desculpa de ir porque é tarde

Teu cabelo de dia seguinte
O olhar de quem esteve triste
Soa bem parecer recatado
E a mania de olhar de lado

Não me lembro onde deixei a chave
Não me dou bem com memória
Não faço ideia se fechei a porta
E se chequei a hora

Não sei como é daí de cima
Tão longe
Tão breve
Covarde

Onde o tempo parece incansável
E você me parece intocável
E teu ritmo sempre atrasado
E teu bumbo ressoa pausado
E voce
Se finge
De surdo.