sábado, 18 de julho de 2015

cheios de pó.

estantes cheias de discos
velharias cheias de histórias
instantes cheios de ódio
escritos pela minha curta memória
dos medos espalhados pela mesa
e todas as várias incertezas
todos cheirando a pó

espalhados pelo chão do quarto
encontrados pelo chão da rua
com os olhos trincados de medo
nas esquinas por qualquer barato
sem qualquer noção de espaço
pelos caminhos que os passos tropeçam
mal acompanhados por onde se beba.

tudo empoeirado, intocado
tudo mudo, tudo errado
bagunçado como angústia que cresce
e eu mudo tudo de lugar
enquanto o sol lá fora ja nasce
mas tudo ainda cheira a pó,
a presente e café passado.

tudo ainda parece como ontem
que ontem, não queria acabar
e as horas que corriam pra algum lugar
e eu continuo nesse quarto imundo
nesse palco incantado e mudo.
mal usado, desaproveitado
tudo empilhado e bagunçado.

não parece ter qualquer luz
além da luz do dia
que vem pra incomodar e esvaziar
que vem pra matar de vez
qualquer dúvida que pudesse restar
de que estou morrendo aos poucos
andando sempre no mesmo lugar

que antes era musica que eu fazia
com o que fizeram comigo
e agora são só palavras borradas
que escrevo e guardo na estante
ao lado de outros e outros e outros
que ficam guardados, como antes,
e acabam esquecidos, não vividos,
cheios de pó.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Pesadelo




As palavras tem me faltado.
Os palcos não tem me bastado.
A música, que abafa meu canto desesperado
Meus medos
Toda a minha dor
Que inunda meus sonhos
Que transbordam em lágrimas
Com o corpo em dor
E a garganta apertada
Sem que eu queira
Sem controle.
Tem muito medo.
Muito amor.

Sem palco em baixo dos pés.
Sem voz pra cantar, eu grito!
Sem espaço pra gritar, eu calo.
Pela necessidade de calar,
Eu choro.

As palavras são muitas,
Muitos sons,
Grito em muitos tons.
Não da pra engolir um mundo
Que nunca saiu de dentro de mim.
Por isso engasgo
As vezes me rasgo
As vezes me odeio
As vezes só ódio.
E quando a música me falta,
Não me basto sozinha,
Não me grito sozinha.
Quando não canto,
Desabo.

sábado, 28 de março de 2015

"ÚLTIMO POEMA" - por Bah Bee Paiva

Sonja no palco, aos olhos de Bah Bee Paiva:

"Me acertou
bem no estômago
à la Etta James,
Expôs notas e vísceras
Sem se importar
se eu estava pronta,
Acendeu o pavio
E deleitou-se
ao som da guitarra,
Como se comandasse
a explosão com os quadris
Por fim, a onda veio direto
dos olhos claros
E arrastou tudo
Nenhuma boca
molhada
de Scotch
se calou,
Nenhuma mão ficou imóvel,
Nenhum pé
firme
no chão,
E não havia coração
que não se partisse
de propósito
só para tê- la
lamuriando
à la Billie Holiday."

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Você me dói

Sua existência me machuca.
Ensanguenta o chão
Me arranha os braços
E me corta aos pedaços
Quando pede perdão.
Me esfaqueia as costas
E ri da minha cara
Quando tranca as portas
E aceito o perdão.
E de novo me puxa
E de novo me afasta
E me pede desculpas
E de novo maltrata
E me mata então.