"Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu?." Clarice Lispector
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Descobertos
Tens o direito de me atirar essa pedra. Confesso, pequei. Traí a carne e tua esperaça, te fiz acreditar em poucas lembranças, traí o sonho e a confiança. Injustamente, dei-me um tiro no pé. Não por pecar mas sim por continuar, por tentar e até mesmo por acreditar. Acreditei, de corpo e alma. Me atirei sabendo que iria me segurar e novamente me enganei. Pequei. Errei. Uma, duas, três vezes.
Não peço desculpas pois aqui ninguém tem culpa. Não viro-te as costas, quero olho no olho, sem olho por olho. Pequei e admito. Atire-me logo essa pedra, arranque-me logo esse grito. Vai! Que eu me calo só por ter a certeza de que meu pecado fez juz ao teu.
Mesmo assim, eu te perdôo por me pedir perdão.
terça-feira, 21 de agosto de 2012
44
Você mexe com a minha cabeça • Quando teme meu olhar • e te agarro entre as minhas pernas • e se escorrega por dentro de mim • e me preenche de prazer e gozo • eu perco o fôlego e a hora também • quando me molho toda em teu suor • quando se deita em mim quase sem ar • quando tua respiração começa, a minha termina e vice versa • os teus sussuros que me arrepiam • O meu pescoço a te precisar • a tua mania de tudo entender • e o teu jeito de me controlar • Minha vontade de querer gritar • A gente sabe mas não leva a sério • A gente sente e nao quer falar • Nesse silencio a gente quase mente • mas no escuro é melhor nem tentar.
sábado, 11 de agosto de 2012
insônia
a gente perde o sono porque com sono a gente perde muito.
a gente perde a realidade que insistimos em botar pra dormir.
a gente adormece porque o tempo precisa se perder um pouco.
e mesmo assim a gente acaba ganhando.
De jeito ou de outro, a gente acaba sonhando.
quarta-feira, 8 de agosto de 2012
Incerto
Foi chegando por dentro
e botou-me pra fora
acolheu-se ao centro
sem marcar muita hora.
fez-me cega às horas
com o pensar quase lento
porque aonde tu moras
não conheces o tempo.
à mercê de um encontro
fez-me escrava doutrora
pôs meu tempo no vento
e chamou-me de Aurora.
Me despi por detrás
fiz-me tua no agora.
Tu tirou minha paz
e depois foi-se embora.
sábado, 4 de agosto de 2012
Metades
O que acontece
com duas metades
quando uma anoitece
a outra rouba as tardes?
Duas metades sem regra
quase vazias de esperaça
uma negra,
outra branca.
Uma metade fria
que em um todo bastaria.
Uma ardendo em chamas
e a outra em calmaria.
Duas metades de mãos
entrelaçadas em pleno contraste
uma no meio das pernas,
e outra nos pêlos da face.
Duas metades que se são metades
que se dão pela metade
mas que juntas metades, se são.
Mas que em todo todo há metadee que em toda metade ilusão,
porque metade do dia é saudade
e a outra metade é paixão.
Assinar:
Postagens (Atom)