segunda-feira, 20 de junho de 2011

Joao da Lua


Nasci em berco portugues, no dia seis de algum mes. Desde que pus meu pobre pe no mundo, so tenho visto lugares imundos. Desde que me entendo por gente -se e que sou gente-, divido minha cama com os ratos e baratas e as vezes algum vira-lata vem me ver. Mas nao sei porque... so sei que nao por falta de carinho, mais tarde eles todo se poe a morrer. Sempre que acordo, que sorte, dou de cara com o mar e as vezes posso ate mergulhar. Nao sei nadar, mas me divirto tanto que ate me esqueco da vida, ate que a fome comeca a chegar.
Meu nome e Joao da Lua. Minha mae me deu esse nome, diz ela, pra nao dizerem que eu era filho da sua. Sua o que? nunca entendi... Ela era formosa, tinha uns cabelo preto, como diz?, "brec pauer" (Isso dai foi um gringo que me "exprico").
Dai chegou o dia que toda formosura que ela tinha foi pra baixo do mato, que nem sola de sapato, e so sobrou o amor. A terra tinha a sua cor...
Eu tinha umas moeda no bolso e muita sorte. Passei a dividir o frio da noite com as Drag que trabalhava no portugues... Minha vida foi sempre assim, ate que um dia conheci uma moca que trabalhava numa tal de escola. Sua beleza me arrastou a forca, mesmo eu estando doidao de cola. Cheguei la, todo sujo, vestido de trapo sem lavar. Vi umas coisa no quadro que era igual as que eu via nas portas dos bar, em todo lugar. Era umas tal de letra. Foi a professora que falou. E me ensinou a tal das letras e os tal dos numeros. E depois dos numeros, me esinou a rezar. E disse ela, que rezar, era recitar. Recitei das quintanas de Bandeira, ate as teorias de Bandura. Conheci entao Carlos Drummond de Andrade. Na verdade esse dai eu ja conhecia, so nao sabia quem era. Ele morava comigo no portugues, me viu nascer e tudo. Eu conversei com ele quando minha preta se foi e ele foi bem compreensivo, nunca me pediu pra parar de falar. Mas tambem nunca falou nada. Mas mesmo que ele nao tenha me explicado, agora consigo entender o que ele disse ao escrever que "No mar estava escrita uma cidade". Ele sabia que seu garoto um dia ia conseguir olhar e ver.


Meu nome e Joao da Lua,
Eu era menino de rua
agora eu sou poeta.

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